Ainda não caiu, totalmente, a ficha que vem vindo um pedacinho de gente que vai ser totalmente dependente de mim para viver.. Não, esse negócio de conexão mágica com o feijão que cresce dentro de você não surge de uma hora pra outra. É todo um processo, que no meu caso teve várias etapas. Eu mal respirei quando me mudei aqui pra Suécia e já engravidei logo depois de 2 semanas. A coisa é que foi totalmente não planejada. Eu interrompi o uso da minha pílula porque ela não estava mais sendo boa pra mim, e eu queria passar por uma consulta pra poder trocá-la por outra. Mas pra isso eu precisava do PS (o famoso personnummer) que ainda ia demorar pra ficar pronto.. e daí que nesse meio tempo eu recebi um *check in* inesperado! E eu nem me liguei que sentia um cansaço louco e que aquilo podia ser gravidez.. eu sempre fui muito dorminhoca, e como a gente estava viajando por Paris batendo perna o dia todo, nem me preocupei. Aí logo que a gente voltou de viagem, já com 5 semanas de atraso, eu resolvi comprar um teste de farmácia com o c* na mão e o Alexander com a maior tranquilidade de Buda. Como eu sentia meus peitcholas doloridos e tinha cólicas, pensei : *tá vindo!* Talvez viesse atrasada porque tinha parado com a pílula há pouco tempo.. e foram várias as manhãs em que o Alex olhou pra minha cara e perguntou: “e aí?” e eu respondi “nada. mas.. tá vindo! eu tô SENTINDO!”(usando a força do pensamento e unindo todas as forças do universo pra que isso fosse verdade) e nisso ele me dizia “eu acho que você tá super grávida!”. Daí que comprei o bendito teste de farmácia e fiz às 5 da manhã e quase tive um troço quando apareceram dois risquinhos. Assim, não pensei “tem um bebis se formando dentro de mim!”, pensei “to ferrada, agora é o meu que tá na reta!”. Antes desse episódio, eu já tinha pensado em várias coisas metafísicas. Tipo, no infinito do universo, na existência de um deus, na morte da bezerra, mas nunca, nunca passou pela minha cabeça de cérebro de algodão se eu queria ter filhos um dia. Talvez eu não quisesse e fosse passar a vida toda sem filhos, se essa fosse minha escolha. Mas aí, já peguei o bonde andando e achei um pouco sacanagem pular. Os primeiros 3 meses não foram nem um pouco fáceis. Não me senti invadida por uma alegria maternal como muitas grávidas dizem por aí. Eu senti foi muito medo, insegurança, raiva, enjôos (a os enjôos, me fizeram pensar que eu poderia fazer dublê de “a exorcista”).. e o pior de tudo, solidão. Porque tô a 10 mil km longe de quem me dá segurança e tratar de um assunto delicado assim em chats ou em ligações pelo Skype não me pareceu lá muito satisfatório. O que eu sempre prezei foi pela minha liberdade, na ideia de que sempre quisesse fazer algo, nada me impedisse. Sei que o Alex vai tar do meu lado me dando apoio e tudo o que eu precisar para as coisas saírem bem. Ele vibrou com a notícia e me deu o abraço mais acolhedor do mundo. Já eu confesso que senti por um bom tempo um “parabéns” como se fosse “meus pêsames”. É meio tabu falar dessas coisas, de como a gente realmente se sente em relação a isso porque todo mundo espera que você se comporte igual as grávidas de capa de revista. Aqui a liberdade de escolha das mulheres é respeitada, então se tivesse optado por ter um aborto eu teria todo o apoio necessário – inclusive psicológico. Só por curiosidade: quem opta por não ter, antes que dê fim ao processo, a mulher tem um intervalo de 1 semana para repensar na decisão que ela tomou, se é isso mesmo que ela quer e não vai se arrepender depois. A gravidez pode ser interrompida até o 18o mês sem que você precise justificar o porque, depois disso só é liberado se o feto possuir algum problema, a mãe tiver alguma doença ou, raramente, por problemas sociais. Eu super sou a favor do aborto, PORÉM (antes que os conservadores machistas atirem tudo o que tiverem nas mãos em mim), sou contra a banalização do mesmo. E acho que apesar de muitos não apoiarem, que pelo menos houvesse respeito entre a diferença de opiniões e que o sistema pudesse permitir a liberdade de escolha (digo isso para o Brasil e outros países que ainda não legalizaram).
Eu não me sinto madura o suficiente para criar um filho, ainda não terminei meus estudos (ainda tô longe disso!) e não sei se meu psicológico tá pronto para isso. Eu sempre tive rodinhas nos pés e nunca fui de gostar de crianças. A ideia era começar com cachorros, e depois que tudo tivesse meio que sob controle, a gente começasse a digerir a ideia de ter filhos. Mas aí a cegonha fez um check in de emergência de última hora, pegou o hotel todo despreparado e agora a gente tenta arrumar a bagunça toda. Por mais que o campo esteja preparado pra ter um filho – tenho o cara que amo, a Suécia meio que adota o seu filho e te ajuda a criá-lo, apoio do governo para estudo e flexibilidade de horários – eu super me sinto andando em uma corda bamba em cima de uma piscina cheia de tubarões famintos. Eu não sei cuidar de plantas, as únicas que sempre me dei bem foram os cactos e eu sempre queimo o arroz. Mas parece que não é o fim do mundo e que existe vida pós-parto. Uma vida totalmente diferente, mas existe.
Bom, assim que o teste deu positivo a gente fez os procedimentos necessários aqui. Ligamos para o vårldcentral (tipo um centro de saúde) para agendar um horário. E aqui quem faz o pré natal é a barnmorska e não um ginecologista- a gente só encontra com um durante uma vez na gestação e depois só no dia do parto. A tradução mais livre para barnmorska é obstetriz. Eu achei estranho não terem feito teste de sangue em mim para confirmar a gravidez mas fui informada que os testes de farmácia são muito certeiros aqui. E o sangue que coletaram de mim foi usado para outros exames. Tudo lindo, corpitcho pronto para o descarrego. Só que na hora que a barnmorska me perguntou se eu consumia drogas, alcool e afins.. eu respondi que não, bebo socialmente, e drogas não uso nenhuma com frequência. Não, pera, mas acho que devia citar isso.. a gente meio que acabou de voltar de Amsterdã e … (o Alexander queria me matar nessa hora :)) comeu cogumelos mágicos e sabe, né.. os coffes shops. Tipo, eu não sou de fazer isso, só curto uns bons drinks pra ficar alegrinha e quando faço isso pela primeira vez na vida, descubro que tem um brotinho crescendo dentro de mim. Mas eu achei necessário dizer porque fiquei muito na dúvida se aquilo podia prejudicar o feto, mãaaas, grazadeo, que como foi muito no começo e foram “poucas”vezes, as chances de algo dar errado eram mínimas. Mas o Alexander chutou meu pé pra me lembrar que se a gente fosse considerados narcóticos, assim que o bebis nascesse ia vir uma assistente social pegar o nosso bebê. Ainda bem que dessa vez a curiosidade não matou o gato. Eu me dei a chance de pensar no que ia fazer até a próxima consulta quando teríamos o primeiro ultrassom. Já tinha tomado a minha decisão, e ela tinha sido não ter. Mas quando a gente viu aquele fio de vida pulsando na tela, aquele pedacinho de vida se mexendo freneticamente, não teve como, eu me derreti, um cisco caiu no olho e as lágrimas desceram. É algo que não consigo explicar. Foi, tipo, todo aquele turbilhão de coisas negativas e contras que tinha pensado desapareceram em segundos. Mas foi aí que senti na pele que pra tudo a gente dá um jeito e que amor é uma coisa que não se explica.
devaneios
esse negócio de gravidez
Benjamin, com 11 semanas. (agora ele já tá com 20!)
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4 Comments
Tábata Eguti
dezembro 1, 2013 at 11:42 amBrunete, nao cobre de vc esse romantismo maternal não ! Primeiro ele vai detonar o parquinho de diversoes do papai e mamae, sugar suas energias, destruir as tuas noites de sono, se movimentar como alien, chutar e dar milhares de cotoveladas nas suas costelas, e nada disso é romantico :/ O dia em ele chegar à essa selva de pedras , ai sim, nesse instante vc vai se ver perdidamente apaixonada, mas até o primeiro encontro, forca na peruca !
Nike-chan
dezembro 31, 2013 at 5:10 pmOi, Bruna!!! Talvez vc nem se lembre tanto de mim… mas tenho vc no face. Fizemos a pré escola juntas, brincávamos de Barbie freneticamente, vc vivia em casa e eu na sua. Engraçado que, na infância, passávamos um tempo longe, mas sempre nos encontrávamos de novo. Acho que a última vez que conversamos vc estudava no Anglo e minha tia trabalhava lá. Vc me perguntou se eu tinha ICQ e eu nem sabia o que era isso… kkkkkk muito arcaico!
De qualquer forma, eu vi sua barriguinha fofa no face e puei pra este blog curiosa. E tive todo tipo de emoções lendo isso. Eu confesso que também nunca te imaginei como mãe – também nunca tinha me imaginado mãe XD – Mas chegando ao fim do post fiquei muito, muito feliz mesmo. Porque acredito honestamente que, se todas as gravidas fossem honestas com ses sentimentos como vc foi, se pensassem quem são com o que sentem, se buscassem coragem onde não tem, se tivessem um coração como o seu, talvez tivéssemos mães melhores, e adultos melhores.
Parabéns pela sua gravidez, força para todos os momentos difíceis que estão por vir, e muita alegria para todas as situações maravilhosas que estão por vir. Tenho certeza que esta criança vai ser muito feliz, que vai ter em você uma melhor amiga, uma companheira de aventuras.
Fique com Deus, seja muito feliz e tenha juízo kkkkkk
Bem, é tudo, tudo de bom!
Suellen Nicolau > tenho vc no face 🙂
michellemahasinMichelle
novembro 11, 2014 at 1:17 pmMuito show o seu blog! Estou aqui atrás de outras brasileiras passando ou que passaram por uma gravidez na Suécia. Muito bom ler as experiências dos outros. Escreve mais! Estou de 29 semanas! Vivo em Kalmar há 9 anos.
Bruna Piloto
novembro 15, 2014 at 3:55 pmOlá, Michelle!
Que bacana que você encontrou o Blog! 😉
Juro que tive que dar uma jogada no Google pra ver em quais bandas ficava Kalmar! Jurava que era no Oriente Médio! 😀
29 semanas! Que legal! É agora que a ansiedade vai a mil! Muito boa sorte no teu parto! Que tudo dê certo! Felicidades pra vocês!