Brasil

A minha experiência em uma tribo indígena pataxó

Oies! Vim aqui contar como foi ter visitado a reserva índigena pataxó da Jaqueira, uma tribo que fica pertinho de Porto Seguro. Na reserva, mais de 30 famílias pataxó vivem de forma tradicional. Lá pude conhecer um pouco mais sobre sua cultura, seus rituais e história de luta para manter suas tradições vivas. Com certeza, foi uma experiência muito enriquecedora que guardarei com um carinho especial na minha memória até ela faiá um dia! haha

Esse passeio é ótimo para quem quer dar uma escapada das praias, fazer uma idéia de como era o Brasil antes de Cabral. É uma boa oportunidade de entrar em contato com as nossas origens e se conectar com a natureza.

cerimônia tribo indígena pataxó
os índios fazendo awê, um ritual de confraternização e agradecimento

Aberta a visitas

A reserva da Jaqueira recebe visitantes de segunda a sábado, sendo que a maioria das pessoas só resolve passar o dia lá. Geralmente, os visitantes chegam na parte da manhã, almoçam e vão embora. Como eu queria ter mais tempo para sentir como é a rotina deles de perto, decidimos passar uma noite na aldeia. Nós fomos através da agência da dona Luiza, a Pataxó Turismo, e escolhemos fazer o “dia de índio com pernoite“. No pacote estavam incluídos transfer de ida e volta partindo de Porto Seguro até a aldeia, entrada, pernoite e 3 refeições. Por adulto pagamos R$270,00 e o Benja pagou meia.

Foi bem roots e incrível ao mesmo tempo ter dormido em redes dentro de um quijeme (oca). Acordei toda zoada das costas no dia seguinte. E mesmo tendo me besuntada toda de repelente quase fui carregada pelos pernilongos mas valeu MUITO a pena o esforço .


Bom, assim que chegamos fomos convidados a fazer pintura corporal.

Os índios nos explicaram que quem é solteiro usa uma pintura diferente de quem é casado. Eu escolhi fazer a de estou em um relacionamento complicado, brinks.

pajé de uma tribo indígena fazendo defumação durante uma cerimônia na reserva da jaqueira

Depois disso, fomos recebidos com um ritual de boas vindas na oca onde as cerimônias acontecem. O pajé, que é o lider espiritual da tribo, rodou a oca defumando amescla, uma resina muito usada para purificar ambientes e pessoas.

Povo de luta

palestra tribo indígena pataxó

Logo em seguida, a Nitynawã, ativista da causa indígena e uma das 3 irmãs fundadoras da reserva, nos deu uma palestra de conscientização que me emocionou bastante. Ela nos contou sobre a situação de vulnerabilidade em que os indígenas se encontram atualmente. Nitynawã teve seu pai assasinado por um fazendeiro. Isso é um cenário muito comum porque muitos fazendeiros querem ocupar o território indígena para a criação de gado. Também ficamos sabendo sobre o massacre de 1951 dos Pataxó que aconteceu em Porto Seguro. Uma coisa que eu nem imaginava. Foi uma cilada planejada pela própria prefeitura da cidade na época com a intenção de extinguir a cultura deles. Depois desse episódio, eles foram proibidos até de falar o pathxôhã, sua língua nativa.

Em seguida participamos do awê que é uma cerimônia para entrar em contato com a natureza e o sagrado e quem quiser pode entrar na dança!

Turismo sustentável

Visitar a aldeia é uma oportunidade maravilhosa para nós conhecermos e ajudarmos a preservar a cultura da etnia pataxó. Visto que eles dependem muito do fluxo de turistas para tornar isso viável.

dois índios da tribo da reserva da jaqueira

Eles tem um senso de coletividade enorme, tudo o que eles fazem tem o intuito de trazer melhorias para a sua própria comunidade. Se alguém sai de lá para ir estudar na cidade grande, por exemplo, é porque eles precisam de alguém na aldeia com tais conhecimentos. E tudo bem se nós vermos um índio com celular, dirigindo carro, nós temos que levar em consideração que eles estão perdendo suas terras e aos poucos estão tendo que se adaptar a nova realidade. A aldeia de Coroa Vermelha, por exemplo, é a mais urbanizada de todas e os índios de lá já não vivem em modos tão tradicionais como antes.

Os rangos indígenas

Eles já não vivem mais da caça porque isso não é mais sustentável por conta do risco de extinção das espécies. Isso se deve ao fato de que o território onde eles vivem hoje não é grande o suficiente para que eles possam viver da caça de subsistência.

Um prato bem típico indígena é o peixe assado na folha de patioba. Eu não provei porque sou vegetariana mas o Alex gostou bastante. Eles não usam sal no peixe e nenhum outro tempero, é a folha que dá todo o sabor.

Já no café da manhã comemos banana da terra assada, mandioca cozida e bolo. Sério, o Benjamin comeu mais da metade desse bolo sozinho!

Passeio pela aldeia

Nós fomos para uma trilha em mata fechada. No percurso, vimos alguns tipos de armadilhas que eles utilizam para capturar alguns animais de porte pequeno. Também visitamos a escolinha bilíngue da aldeia e passamos pela oca do pajé, onde são vendidas ervas medicinais.

plantas medicinais vendidas na tribo indígena

Confesso que fiquei sim com medo de encontrar cobra, escorpião e afins por lá. Porém aprendi que é raro uma cobra se aproximar da aldeia por conta do barulho. Mas eles me disseram que no rio onde eles pescam, lá as vezes aparece jibóia! HAHAH! Eu ri de nervoso porque ele pediu para eu ter cuidado com o Benja porque ele é tipo um aperitivo no menu das jibóias.

Nós demos muita sorte por termos ido em uma sexta-feira pois é o dia em que eles fazem um ritual para seus antepassados. Foi tão lindo e mágico poder ver isso tudo de pertinho. Eles passaram horas dançando e cantando músicas tão lindas que contavam suas lutas, coragem e união. Depois que o ritual acabou, fui conversar com os outros índios, com a Nitynawã e sua mãe Taquara. Taquara tem 99 anos, é a índia mais velha e a benzedeira da tribo. Só sei que me senti tão imersa na experiência toda que, as vezes, até esquecia de tirar fotos. Eu queria estar ali 100% e não queria ser tão invasiva.
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Deu para notar que não era uma coisa montada, uma cilada para turistas. Foi uma convivência muito sincera e enriquecedora. Sai de lá com um quentinho no coração. Fiquei tão emocionada com a garra e coragem com que eles lutam para que sua cultura sobreviva. A Natynawã nos contou um pouco sobre como foi a sua trajetória. Para se formar em pedagogia, ela disse que sofreu muito preconceito nas escolas fora da tribo. Mas mesmo assim ela foi até o fim. Quando visitamos a reserva, eles estavam arrecadando fundos para a formatura na universidade.

Quem lembra do Poranga e Porunga?

Na aldeia eles também tem uma lojinha de artesanato para quem quiser levar algo para a casa de lembrança. É uma coisa mais linda que a outra. Nós trouxemos um cocar que agora está aqui na parede da nossa sala.

Para terminar, eu achei tudo muito bem organizado. Eles construíram um banheiro com chuveiro para receber os turistas, por exemplo. Foram também muito receptivos com a gente, sem contar na energia maravilhosa que senti naquele lugar. Fui embora de lá já querendo voltar e poder ficar muito mais tempo. Mas claro que antes de ir, eu pedi para a Taquara nos benzer com as ervinhas ancestrais dela.

Pajé tribo indígena
O pajé e o Benja (sim, o Benjamin está com uma tatto na perna)

Visitar uma aldeia era uma das coisas que sempre tive vontade de fazer. Desde pequenininha me encanto pela cultura indígena e sinto que tenho uma forte ligação com eles.
Eu torço muito para que cada vez mais as pessoas se conscientizem e respeitem suas raízes, seus povos e minorias. E desejo que os Pataxó e todas as outras tribos indígenas continuem resistindo e lutando até conquistarem novamente seu espaço.

Auêry por tudo! ❤️

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